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Armani Camilla Maia / O Globo
Mart'nália veste:
Terno e camisa Alberto Gentleman
Gravata Empório
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A cantora Mart’nália usa cueca. Tem uma queda pelas samba-canção ou boxer, mostra com orgulho uma Calvin Klein listrada e uma Joe Boxer com porquinhos. A coleção fica numa gaveta daquelas com divisórias, cada peça em seu canto.
— Não gosto de calcinha, entra no fiofó. Se achar alguma, não é minha. Esqueceram aí.
Sutiã? Quem revira a tal gaveta de intimidades também não acha.
— Só uso na praia, onde ficar com as peitolas balançando não dá.
Em casa, a peitola é liberada. Mart’nália mandou até instalar uma esteira de palha na varanda do apartamento para evitar olhos grandes demais.
Saia ou vestido?
— A última vez que usei faz uns 26 anos. Foi no casamento da minha irmã.
De lá para cá, essa irmã teve um filho, Raoni, que se casou recentemente. Mart’nália, toda orgulhosa, conta que foi madrinha da boda do sobrinho:
— De terno.
Subiu ao altar com um Alberto Gentleman sob medida, com o nome dela bordado na parte interna do paletó, camisa social da mesma marca, gravata Empório Armani e sapato Prada sem cadarço, “comprado lá fora’.’
Mart’nália tem preguiça de amarrar sapatos e de comprar roupas. Quando gosta de alguma peça que vê na vitrine, leva várias de uma vez ou pede para que alguém tenha esse trabalho por ela.
— Sou bem básica. Gosto mesmo é de camiseta. Só uso uma roupa melhorzinha quando tenho que ir num lugar mais tchã — diz ela.
No econômico closet da cantora, basicamente se repetem camisetas brancas, calças jeans e camisas sociais. Uma peruca (‘‘coisa de carnaval’’), uma capa para bolsa de água quente em forma de peitol... seios (“ganhei de presente’’) e algumas talas (‘‘me machuco andando de moto’’) quebram a monotonia quase monocromática. Nas prateleiras de sapatos, tênis, quase sempre do mesmo modelo, quase todos sem o trabalhoso cadarço.
Para quem não tem tantas roupas assim — e nem pretende ter —, ela ocupa bastante espaço. Além do closet, espalha-se por dois armários. Num deles, guarda só os figurinos dos shows: calças e camisas brancas, camisetas pretas (tem uma gaveta só para elas, todas iguais), chinelos (de Prada a ‘‘caidaços’’), toalhas de frasqueira com seu nome bordado, corretamente, presente de uma fã.
— Uso roupa fácil para sambar — explica.
Facilidade e praticidade são rima fácil no vocabulário da filha do sambista Martinho da Vila, na estrada com o disco “Não tente compreender”, lançado em abril, com direção musical de Djavan. Ela mesma descolore o cabelo, ela mesma desenhou a cama mais alta para não desperdiçar a vista da Lagoa que tem no quarto, ela mesma resolveu botar um colchão na sala, já que dorme em todos os cantos do apartamento que quitou há um ano. É que, como já se sabe, muita coisa dá uma preguiça danada em Mart’nália, vide o emblemático cadarço.
Vai ver que é por isso que ela adora pijamas. Tem vários, boa parte com estampas fofas. Assim como as meias.
— Só gosto de meia ridícula — confessa.
Pijamas, gorros, meias, tecidos africanos e casacos com as cores do Brasil ficam no terceiro armário. Os três primeiros ela usa no frio da casa que tem perto de Mauá. Os dois últimos acumulam maior milhagem.
— Nasci no dia 7 de setembro e, quando viajo para fora, vou bem Brasil, para não me encherem o saco e já me abordarem com um sorriso no rosto — conta.
Mart’nália gosta de dar risada. Assim como gosta de cerveja, “fora de casa”, e de comida japonesa, dentro de casa, “com velinhas e uns beijos”. Na varanda do apartamento, onde ficam as velinhas que dão clima aos beijos, uma fonte com água corrente e guias “de macumba mesmo”, ela planta ervas.
— Tem alecrim, boldo, arruda, manjericão. A maldita? Só depois que liberarem — brinca.
A arruda exala seu cheiro característico no ar. Filha de Oxóssi, a cantora gosta de referências religiosas. Assim como na casa da mãe e da avó, instalou um São Jorge com uma lâmpada sempre acesa no alto da porta de entrada:
— Mesmo se não fosse macumbeira ia botar.
Tem também um Zé Pilintra com um copinho de pinga no hall, um santuário no quartinho da área de serviço, onde acende velas todas as quintas-feiras, dia de seu orixá, e um arco e flecha de Oxóssi na parede da sala. Este último objeto fica entre um piano e uma parede com algumas fotos em preto e branco de James Dean, Chaplin, Batman e Robin:
— Adoro filmes antigos. Tinha várias fotos, mas me separei, a gata ficou com o que ela quis, e eu com o resto.
A sorte de Mart’nália é ter muitas amigas. Uma, de São Paulo, ajudou a escolher a mesa; outra, de Vitória, as cadeiras.
— Gosto de sugestões. Das amigas, melhor. Meu próximo empreendimento é um tapete.
Outro projeto dela é emagrecer quatro quilos. Como toda mulher, Mart’nália sempre acha que está dois quilos acima do peso.
ALICE AUTRAN GARCIA (PRODUÇÃO)
GABRIELA GOULART (TEXTO)
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